Por que a greve de 01 de novembro não deu certo?

Foto: Alcivan Fernando

A mobilização que reivindicava a diminuição dos impostos e dos preços dos combustíveis não emplacou. Saiba por que.

Como ocorreu a greve em 2018?

Antes de entender o porquê da greve de 01 de novembro de 2021 não ter emplacado, entenda como ocorreu a mobilização nacional dos caminhoneiros em 2018.

A paralisação que ocorreu em 2018 sem precedentes e parou o transporte de cargas em 24 estados brasileiros, além do Distrito Federal, tiveram até a necessidade de intervenção das Forças Armadas e das polícias rodoviárias estaduais e Federal para pôr fim ao movimento, que durou dez dias.

Que impactos teve a greve de 2018?

Com a greve de 2018 o PIB – Produto Interno Bruto teve expectativa reduzida de 2,5% para 1,6%, segundo a FGV – Fundação Getúlio Vargas.

Além disso, causou falta de alimentos e remédios pelo país, escassez e alta de preços da gasolina com longas filas para abastecer, aulas e provas foram suspensas, a frota de ônibus diminuiu e voos foram cancelados em várias cidades. Grandes montadoras de veículos anunciavam que iriam reduzir suas produções, dentre vários outros impactos.

Cinco cidades no Rio Grande do Sul haviam decretado situação de calamidade pública, face aos desabastecimentos, enquanto outras cidades de quatro estados decretaram estado de emergência, dentre elas São Paulo e Porto Alegre.

No Rio de Janeiro o município decretou estágio de atenção. Estavam em estado de crise serviços como o BRT, ônibus normais, abastecimentos de alimentos e combustíveis. Os alimentos já estavam acabando e 90% dos postos de combustíveis do estado estavam completamente vazios.

As ações da Petrobras na B3 caíram 34%, em virtude da redução do preço do diesel decorrente de negociações, perdendo 137 bilhões de reais em valor de mercado.

Quanto ao impacto tributário no preço dos combustíveis, cerca de 45% são tributos – 29% estaduais e 16% federais.

Principais conquistas dos caminhoneiros na época

As ações acordadas pelo governo Federal com os caminhoneiros até o dia 26 de maio de 2018, teriam o impacto de 7,4 bilhões de reais nos cofres da União. Uma parte seria o custo advindo do subsídio ao diesel e a outra seria a diminuição da receita advinda da isenção tributária. 

Os recursos adicionais seriam obtidos através de crédito extraordinário, sendo que o controle de preços teria um custo de 4,9 bilhões de reais ao contribuinte.

Luis Fernando Pezão, então governador do Rio de Janeiro na época, anunciou uma redução de 16% para 12% do ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços do diesel, para usar em substituição do movimento nas rodovias do estado. 

Marcio França, governador de SP na época, anunciou ter chegado a um acordo com a categoria, prometendo o fim da cobrança do pedágio sobre eixo suspenso, o cancelamento das multas aplicadas aos grevistas, desconto no IPVA, ter um representante da categoria na agência que regula preços de transporte e ainda fazer chegar aos postos o desconto de 10% das refinarias.

Por fim, a tabela de fretes criada pelo então presidente da República na época, Michel Temer (MDB), na tentativa de reduzir a ira dos grevistas em 2018, não foi capaz de garantir conforto aos profissionais.

A greve de 01 de novembro de 2021

A greve de 01 de novembro não emplacou e não existiram bloqueios nas estradas. 

De acordo com especialistas, a dificuldade principal dos caminhoneiros autônomos de proporem uma greve de porte nacional e ter uma adesão maciça, está principalmente relacionada ao fato deles não serem sindicalizados e organizados, não existirem assembleias, não possuírem lideranças com força suficiente para uma manifestação desse porte. Eles precisam de alianças para a greve prosperar, principalmente de outros negócios como o agro por exemplo e de empresários, como os das próprias transportadoras, entre outros.

Doutora em História Social e professora de História Contemporânea da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Larissa Jacheta, reconhece que o apoio da categoria ao presidente Jair Bolsonaro cria uma espécie de freio às novas mobilizações. Ainda assim, ressalta que muitos dos caminhoneiros acreditam no presidente.

Caminhoneiros pró-Bolsonaro usaram o WhatsApp para tentar frear greve, “Intervenção já”.

Embora o país reconheça a importância da categoria em 2018, os caminhoneiros, ainda enfrentam os mesmos problemas, ou seja, o valor do frete defasado, a oscilação do preço dos combustíveis e as jornadas de trabalho estafantes.

Os caminhoneiros tem um custo operacional muito grande. O valor mínimo dos fretes não acompanha a inflação, nem o custo de vida, nem a alta dos preços e isso causa uma perda enorme em termos de ganho real. Está sempre muito defasado.

Uma mobilização como a de 2018 só vai acontecer quando esses trabalhadores se derem conta de que as questões deles estão acima dessa opção ideológica que fizeram (apoio ao presidente), finaliza a historiadora.

Já Plínio Dias, presidente do CNTRC – conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas alega que a proliferação de entidades representativas, dificulta a organização de uma greve nacional, mas critica severamente as organizações maiores e mais consolidadas por não corresponderem aos anseios das bases.

Nós tomamos essa atitude, porque os caminhoneiros não aguentam esperar mais pela maioria das entidades responsáveis que se dizem líderes. Desta forma, começamos com três ou quatro sindicatos lutando pelo caminhoneiro autônomo, mas o movimento cresce a cada dia, avalia.

A mobilização de 01 de novembro atingiu 15 estados brasileiros, porém, em virtude da adesão reduzida a opção da maioria foi por não obstruir as rodovias. 

Nossa mobilização é pacífica e a nossa reivindicação é pela sobrevivência dos caminhoneiros e contra os aumentos abusivos da Petrobras do gás de cozinha, da gasolina e principalmente do diesel, que faz nossos caminhões rodarem.

Redação – Brasil do Trecho