Por que a Fiat não teve o mesmo sucesso nos EUA como teve em outros países

Seus veículos são perfeitamente adaptados às cidades europeias, tendo um design elegante em seus modelos compactos.

Por que a Fiat não teve o mesmo sucesso nos EUA como teve em outros países
Foto: Reprodução / Internet

No Continente Europeu e na América do Sul a Fiat sempre teve grande sucesso, mas nos Estados Unidos não.

Veja porque a Fiat fracassou em todas as suas tentativas de ingresso nos EUA

Como muitas outras montadoras, a Fiat tentou popularizar seus veículos mundo afora. Ao longo de sua história a marca entregou carros clássicos, principalmente na Europa e na América Latina. Aqui no Brasil, quem não lembra do famoso Fiat 147, que foi o primeiro carro da marca a ser vendido por aqui, tendo mais tarde outros modelos como Uno e Palio!

Seus veículos são perfeitamente adaptados às cidades europeias, tendo um design elegante em seus modelos compactos. Por muitos anos a Fiat é líder de vendas no Brasil é extremamente popular na Europa, mas no maior mercado automotivo do mundo, os Estados Unidos, ela é praticamente ignorada.

A Fiat fracassou depois que tentou sempre inserir seus carros tradicionais, mas por que? O que falta na Fiat para cativar o consumidor? Veja o que a marca tem feito ou deixado de fazer para quebrar esse feitiço de uma vez por todas? Esse é o drama da Fiat nos Estados Unidos.

Os primeiros automóveis foram sendo introduzidos em todo o mundo e aos poucos, foram disseminando seus modelos. Em 1899 a fábrica italiana Automobili Torino da Fiat foi fundada. Foram empregados cerca de 150 trabalhadores e técnicos, que produziram o primeiro modelo.

O Fiat 4HP também conhecido como Fiat 3.5 HP, que parecia mais uma carruagem sem cavalos, do qual foram lançados menos de 30 exemplares. Conforme sua produção foi ficando cada vez mais padronizada. O carro foi conquistando a confiança das famílias, fazendo da marca a maior empresa automotiva de 1910. Mas conquistar a Itália não foi a única ambição da Fiat e em 1910 inaugurou sua primeira fábrica na América do Norte.

O preço do primeiro carro construído nos Estados Unidos era de 4 mil dólares, elevando a marca a um status de luxo, para os consumidores da época. Seu principal concorrente era o modelo T da Ford, que custava só 825 dólares. Na época o famoso piloto de corrida Ralph de Palma ajudou a promover o sucesso da montadora, batendo recorde em pista com seu Fiat de 60 cv, demonstrando todo o potencial da engenharia italiana que evolui rapidamente.

Apesar do notável desempenho nas pistas dos carros de corrida, os carros fabricados em solo americano não eram tão promissores assim, eram máquinas mais pesadas e com preços elevados, além de alguns modelos terem recursos limitados, como o Fiat Tipo 56, que não possuía nem mesmo um sistema de freios dianteiros.

No período da Primeira Guerra Mundial, a produção da Fiat entrou em modo de guerra e concentrou-se principalmente em atender as necessidades do exército. Sua fábrica em solo americano foi fechada, quando os Estados Unidos entraram no conflito.

Somente na década de 50 ela retornou à América do Norte com o original Fiat 500, além dos 600 múltipla e os Fiat 1100, 1200 e 1300. Mas a nova aventura da companhia no mercado americano não deu muito certo. Seus carros pequenos e compactos, não tinham uma boa reputação e eram vistos como pouco confiáveis e propensos a enferrujar facilmente.

O que levou a marca a abandonar os Estados Unidos novamente em 1983. Mais de duas décadas depois, com a chegada da crise econômica de 2008, os americanos começaram a demonstrar uma grande preocupação com o preço dos combustíveis, o que teoricamente abria espaço no mercado para carros pequenos, leves e veículos mais econômicos.

Essa tendência parecia criar o cenário ideal para a Fiat considerasse voltar ao mercado americano. A ideia se consolidou quando a companhia estabeleceu uma aliança com a montadora americana Chrysler que enfrentava dificuldades financeiras e chegou bem perto de fechar as portas, mesmo depois de recorrer a empréstimos.

A parceria ajudaria a Fiat a se reconstruir num mercado que sempre preferia construir carros maiores e mais robustos, algo que a Chrysler já fabricava. A marca passou a se chamar Fiat Chrysler ou grupo FCA e a aquisição total da companhia americana foi concluída em 2014, custando à Fiat mais de 4 bilhões de dólares.

Após a aquisição, o grupo atualizou seu modelo de negócios para focar no mercado de SUVs, visando superar gigantes como a Ford, Chevrolet e Toyota, se posicionando como uma das principais marcas da América do Norte. A investida do grupo FCA não terminou por aí e em 2019 foi anunciada a fusão da Fiat Chrysler com o grupo PSA, dona das marcas Peugeot e Citroen.

A união dos dois grupos resultou no mais novo conglomerado automotivo: a Stellantis. A nova marca cujo nome significa iluminar com estrelas, visa integrar as gigantes do mercado mundial e suas respectivas culturas, além de ser uma estratégia para driblar as crises do mercado automotivo.

Carlos Tavares, diretor executivo da Stellantis, afirmou que a fusão da Fiat e da Peugeot é uma forma de evitar o fechamento de fábricas, diminuindo as despesas de produção em uma base de vendas maior. Além dos dois grupos a Stellantis reúne outras várias companhias consolidadas no mercado, sendo elas: Abarth, Alfa Romeo, Dodge, Jeep, Lancia, Ram, Citroen, DS, Opel, Peugeot e Vauxhall.

Também pertencem a Stellantis marcas como a Fiat Professional, Peugeot Sport e Opel Performance. A vantagem desse grande casamento entre as gigantes automotivas, além da difusão de gastos com as concessionárias compartilhadas é a melhoria de aspectos que antes não eram tão bem vistos entre as marcas.

No caso da Fiat, por exemplo, o aprimoramento no design e acabamento, além da reformulação necessária para se adequar aos diferentes mercados. Mas o grande propósito talvez seja o compartilhamento de projetos entre as marcas.

Segundo matéria do Autopapo, o diretor da Stellantis, Carlos Tavares, já avisou que o foco é reduzir em cerca de 40% os gastos por meio da sinergia de plataforma e no desenvolvimento de novos produtos. Mesmo assim, nos EUA a história se repetia mais uma vez com a Fiat: a montadora italiana parecia enfrentar uma tarefa impossível de fazer o público americano se deixar cativar pelos carros compactos.

Mas é claro que isso tinha um motivo, algo que ia diretamente contra a tradição característica dos carros da Fiat. Enquanto na América do Sul em 2021, a Fiat alcançou a liderança em número de vendas, nos Estados Unidos mais uma vez a situação é delicada.

As vendas da Fiat/Chrysler caíram mais de 15% em 2020, apesar dos esforços da marca em querer conquistar o consumidor. Na verdade, os carros de passeio estão desaparecendo da paisagem americana. Talvez esse seja um dos principais motivos pelo qual a Fiat encontre tanta dificuldade em agradar o mercado.

Nem mesmo o cenário pós-crise financeira de 2008 que parecia uma oportunidade promissora para os fabricantes de carros pequenos e econômicos, foi capaz de cativar o público dos Estados Unidos. Os carros pequenos são adequados para atender ao público italiano, onde a maioria das ruas são estreitas e é difícil encontrar uma vaga para estacionar.

Nos Estados Unidos os modelos líderes em vendas são principalmente os SUVs e picapes. Eles tem estradas amplas e vagas de estacionamento de sobra. Além do mais, a própria cultura norte-americana parece valorizar carros grandes e imponentes, como de fato picapes modelos Ram fazem grande sucesso por lá.

Marcas como a General Motors e a Ford já detectaram a nova tendência dos consumidores e estão adequando seus catálogos, deixando de oferecer veículos menores de passeio. Segundo a agência LMC Automotive a preferência pelos modelos utilitários, ou seja, SUVs, picapes e crossovers, começou há mais de uma década.

Em 2007 por exemplo, mais da metade dos carros vendidos nos Estados Unidos eram modelos de passeio. De lá para cá o modelo econômico mudou e em 2008. Os combustíveis tiveram uma queda naquele período. Em 2017 os veículos de passeio nos EUA representaram apenas 35% das vendas. Além disso, a tecnologia vem evoluindo e trazendo atrativos quanto as versões elétricas de picapes e SUVs, sem comprometer o desempenho desses veículos.

Marcas clássicas como Dodge, Jeep e a própria Fiat Chrysler enfrentam dificuldades para competir. A Ford que passou por uma intensa reformulação lidera as vendas com as picapes da série F, predominantes em pelo menos 18 estados americanos.

Será que com a mudança para modelos elétricos, a Fiat terá uma nova chance? Isso ainda é incerto. A Stellantis já é líder de mercado com rendimentos acima da média na América do Sul. Focada no futuro dos carros elétricos, a Stellantis promete vender mais de cinco milhões de carros elétricos até 2030 na América do Norte, entre carros de passeio e caminhões leves.

Na Europa o modelo elétrico do Fiat 500e é o mais vendido entre os modelos elétricos e híbridos, principalmente Italia e Alemanha. 

Redação – Brasil do Trecho