A vida de caminhoneiro é marcada por desafios, sacrifícios e a constante renúncia ao convívio familiar. João Leão, caminhoneiro há mais de 25 anos, compartilha sua experiência ao falar sobre os obstáculos enfrentados na profissão e a falta de reconhecimento da sociedade.
“Eu sou mal remunerado, ganho comissão e nem sempre posso contar com um salário fixo. Não tenho carteira assinada, nem benefícios como INSS ou férias. A gente trabalha sem garantias, só esperando o fim do mês para conseguir pagar as contas”, conta João. Ele afirma que, muitas vezes, é difícil até mesmo cobrir os custos com o caminhão, deixando o dono do veículo com uma margem de lucro mínima. “Sobrou 600 reais sem minha comissão. Se eu tirar a minha comissão de 400, sobrou apenas 200 para o dono do caminhão”, explica.
João já passou por muitos altos e baixos na estrada. Ele conta que em algumas viagens, como a de Salvador a São Paulo, chega a ganhar apenas 800 reais, valor que muitas vezes é insuficiente para cobrir os custos da viagem e da manutenção do caminhão. “A situação está difícil. O frete está muito baixo e não há uma solução à vista. O que sobra para o caminhoneiro é muito pouco”, desabafa.
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A vida do caminhoneiro é uma constante renúncia. “Renunciamos ao conforto da família, ao aconchego de casa, para viver na estrada. Passamos meses longe da família, e muitas vezes, perdemos momentos importantes”, diz João. Ele fala sobre as dificuldades em não poder estar presente nas datas comemorativas e nos momentos especiais dos filhos. “Eu sou muito família, sinto falta de estar perto deles todos os dias. Mas, infelizmente, essa é a realidade do caminhoneiro”, lamenta.
Apesar das dificuldades, João tenta enxergar o lado positivo de sua profissão. Ele destaca a oportunidade de conhecer o Brasil de perto, vivendo experiências que, para muitos, seriam apenas turísticas. “Eu já percorri quase todo o Brasil, conheci desde a Amazônia até o sul do país. É como se fosse um turismo remunerado”, diz ele. No entanto, ele ressalta que a recompensa não vale o sacrifício da distância da família e da falta de condições adequadas de trabalho.
João acredita que uma solução para a situação dos caminhoneiros seria a criação de cooperativas de carga, ao invés das transportadoras tradicionais. “Em países de primeiro mundo, as cooperativas funcionam melhor, com o valor do frete sendo distribuído de maneira justa. No Brasil, os atravessadores acabam levando uma grande parte do lucro, e o caminhoneiro, que é quem realmente faz o trabalho, fica com uma fatia mínima”, opina.
O caminhoneiro também é um exemplo de resistência. João trabalhou por anos como proprietário de um caminhão, mas devido às dificuldades financeiras e à falta de manutenção, precisou vender o veículo e se tornar empregado de uma transportadora. “Eu já fui dono de caminhão, mas não consegui manter a estrutura. Acabei vendendo e voltando a trabalhar como empregado, mas mesmo assim a situação continua difícil.”
E mesmo com a aposentadoria em vista, João reconhece que a estrada é dura, especialmente para quem já passou dos 60 anos. “A estrada na velhice não é fácil. Mas, se eu pudesse parar agora, eu já deixava o caminhão e ia embora para casa. A estrada é sofrimento, sacrifício, renúncia”, conclui.
A entrevista com João Leão, que compartilha sua vivência e experiência, é um retrato da dura realidade dos caminhoneiros no Brasil. Eles são os verdadeiros heróis anônimos que fazem o país andar, mas muitas vezes sem o reconhecimento e as condições que merecem.
Reportagem produzida por: Jaime Alvez
Texto: Brasil do Trecho
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