Sonegação no setor de combustíveis aumenta com exclusão do etanol do regime monofásico do ICMS

Sonegação no setor de combustíveis aumenta com exclusão do etanol do regime monofásico do ICMS
Foto: Reprodução / lbc

Especialistas apontam necessidade de inclusão do etanol no regime para combater fraudes e perdas tributárias

A adoção do regime monofásico do ICMS para gasolina e diesel, implementada no ano passado, tem sido vista como uma medida eficaz para reduzir perdas na arrecadação de tributos no setor de combustíveis. Contudo, a exclusão do etanol desse novo regime permitiu um aumento na sonegação do produto, de acordo com Emerson Kapaz, presidente do Instituto Combustível Legal.

Kapaz expressou a preocupação durante a live “Os prejuízos do mercado ilícito na economia do país”, parte do projeto ‘Caminhos do Brasil’, promovido pelos jornais O Globo e Valor Econômico e pela Rádio CBN, com o apoio do Sistema Comércio.

Impacto da Exclusão do Etanol no Regime Monofásico

O regime de tributação monofásico estabelece a cobrança de uma alíquota única de ICMS no início da cadeia de produção, trazendo maior transparência e facilitando a fiscalização. Para gasolina e diesel, essa medida resultou em uma significativa redução da sonegação.

No entanto, a exclusão do etanol desse regime criou uma brecha que os sonegadores rapidamente exploraram. “Há levantamentos que mostram a queda da sonegação em diesel e gasolina devido à monofasia. Mas a sonegação no etanol é mais complicada e aumenta, já que os fraudadores se movem rapidamente para essa via”, destacou Kapaz.

Esforços para Inclusão do Etanol e Combate à Sonegação

A Reforma Tributária prevê a extensão do regime monofásico a todos os combustíveis. Contudo, dada a demora na aprovação e implementação da proposta, o Instituto Combustível Legal e a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) estão pressionando o Congresso para antecipar a inclusão do etanol no regime de forma independente.

Kapaz também ressaltou a importância da aprovação da legislação para punir devedores contumazes, considerada essencial pelo setor de combustíveis. Segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a dívida ativa inscrita no ICMS do setor de combustíveis supera R$ 65 bilhões, com os estados recebendo apenas 1% do valor cobrado judicialmente.

Prejuízos e Irregularidades no Setor de Combustíveis

O setor de combustíveis enfrenta perdas expressivas devido a práticas ilegais, totalizando R$ 29,6 bilhões anuais, sendo R$ 14 bilhões em arrecadação de tributos e R$ 15,6 bilhões em perdas operacionais, conforme dados de 2021 da FGV.

Kapaz também mencionou a distorção causada pela permissão de instalação de bombas de combustível “brancas” em postos de grandes redes, como Shell e BR, abastecidas por distribuidores independentes. Inicialmente, essa medida visava aumentar a competitividade, mas resultou em mais adulterações nos combustíveis e aumento na margem de lucro sem afetar a concorrência de forma significativa.

“A ideia era que isso trouxesse mais competitividade. Mas avisamos à ANP que isso levou a um aumento da adulteração nos combustíveis e, consequentemente, na margem de lucro, sem ter mexido na concorrência. Afinal, o consumidor que quer pagar mais barato vai a um posto sem bandeira, não em um posto com uma bomba ‘branca’”, ponderou Kapaz.

Esta matéria foi originalmente publicada pelo jornal O Globo.