Será que o Axor 3131, o caminhão que dispensa motorista pode pôr fim à profissão de caminhoneiro?
É impossível não ficar surpreso ao se analisar o quanto o mundo dos caminhões evoluiu desde a criação do primeiro modelo há mais de 125 anos. Hoje, é possível o abastecimento com diversos tipos de combustível, gerar potências enormes, transportar cargas extremamente pesadas e outros recursos impensáveis no passado. Isso leva a uma pergunta crucial: se foi possível desenvolver tanto até os dias de hoje, o que o amanhã pode trazer.
Muitas vezes, a resposta a essa pergunta está no nível da fantasia como no tempo em que se imaginava veículos voadores ou aqueles que se deslocavam sem a intervenção do motorista. É certo que caminhões voadores estão longe da realidade, mas isso não ocorre com os que se deslocam sem o motorista. Esses já têm modelos disponíveis desde 2015.
O caminhão que lançou essa categoria foi o Inspiration Truck, da clássica marca norte-americana Freightliner. O modelo só podia se deslocar no modo autônomo em rodovias e precisava de um humano para pressionar o botão do piloto automático e intervir em caso de mau funcionamento do veículo.
Embora esse caminhão tenha sido disponibilizado apenas no exterior, a tecnologia não demorou a chegar no Brasil. Em 2018, a Mercedes Benz trouxe para o mercado nacional o Axor 3131, o primeiro caminhão autônomo do Brasil, que é uma adaptação do Axor 3131 original.
O modelo foi desenvolvido para trabalhar no setor canavieiro e, na prática, tem as mesmas configurações e recursos de um 3131 normal, sendo a única diferença o fato de ser equipado com um sistema de direção autônoma da Gunner, empresa parceira da Mercedes em tecnologia agrícola que desenvolve, entre outros serviços, essa adaptação de tecnologia autônoma.
O modelo foi equipado com motor OM 926, de seis cilindros em linha, turbodiesel, gerando 310 cv de potência a 2200 rpm. O torque de 122 mkgf é alcançado entre 1200 e 1600 rpm. O câmbio é o Comfort Shift, caixa semiautomática de 16 marchas e seu funcionamento ocorre da mesma forma que a do Inspiration Truck, o caminhão da Freightliner, com necessidade de um humano para ativar o modo autônomo e intervir no caso de algum mau funcionamento da máquina.
Atualmente, há cinco níveis de automação para caminhões. O nível um é o mais simples, presente na maioria dos caminhões pesados de alto rendimento, como os que têm tecnologia de assistência ativa de frenagem, orientação de faixa de rolamento, controle de distância e velocidade com radar.
O nível dois é quando o caminhão pode se locomover, acelerar e frear com uma rota já determinada, mas que ainda necessita de um humano para ativar o sistema e prevenir algum mau funcionamento, que é o caso de todos os modelos Axor 3131.
O nível três é basicamente o nível dois, mas requer menos do motorista. O nível quatro, que não é encontrado no Brasil, consegue trafegar por rodovias sem a necessidade de um humano na cabine e, por último, o nível cinco, também indisponível no Brasil, que pode trafegar por qualquer centro urbano sem a necessidade de um motorista na cabine.
E a direção autônoma do Axor 3131 oferece bons resultados? A resposta, segundo a Agro Caiana, empresa do ramo canavieiro é bastante positiva. Sua produção praticamente dobrou após a utilização dos caminhões autônomos, passando de uma colheita de 69 toneladas de cana de açúcar por hectare para 118 toneladas por hectare.
Porém as vantagens não terminam na produtividade pois, segundo a empresa, esse sistema eliminou o pisoteamento de brotos, que é quando os pneus passam sobre as novas mudas durante a colheita, e essa é uma das causas de maior prejuízo na lavoura de cana no Brasil.
Uma curiosidade interessante é que o Axor 3131 é o primeiro caminhão autônomo produzido no Brasil, mas não comercializado, título que pertence ao Volvo VM 270 6×4, equipado com motor MWM Maxforce 7.2H, de seis cilindros, potência de 270 cv a 2200 rpm e 97 kgfm de torque em 1200 rpm. O câmbio é automatizado com 12 marchas e o modelo chegou a ser importado em 2016 para operações na lavoura de cana de açúcar da Usina Santa Terezinha, em Maringá, no Paraná.
Para responder à pergunta no início do texto – se esses caminhões oferecem risco para a profissão de caminhoneiro – embora algumas notícias possam parecer preocupantes, como é o caso da Uber que se juntou a uma empresa do Google para desenvolver caminhões que possam se deslocar sozinhos nos EUA, isso só ocorreu porque aquele país passa hoje por uma falta de mão de obra preocupante, com pouca oferta de profissionais habilitados, o que está longe de ser a situação no Brasil, cujo sonho de muitos jovens e trabalhar na área.
A verdade é que implementar um sistema como esse é extremamente caro e o processo que possibilite que caminhões se desloquem de forma segura em estradas tão ruins como as do Brasil vai demorar muito tempo. Portanto, embora isso possa ocorrer algum dia, será em um futuro um pouco distante.
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