Sempre que os preços do petróleo sobem, aumentam as discussões sobre a política de distribuição dos dividendos e começam as discussões políticas.
As políticas dos preços assumem papel importante
A política de preços praticada pela Petrobras assume destaque e acabam focando mais nas causas do que nos efeitos que ele promove e tem impactado profundamente na vida de todos os brasileiros e terminam por consumir boa parte do orçamento familiar.
Os aumentos sucessivos dos combustíveis, formam um efeito cascata, em que os alimentos, fretes, custos de produção, serviços e produtos em geral, acabam aumentando consequentemente, inflacionando o mercado e tornando a vida cada vez mais difícil.
O parque mundial de refino do petróleo para extração de derivados, iniciou logo após a II Guerra, ampliando o mercado internacional de óleo cru. As grandes empresas particulares, enfrentaram o crescimento das estatais, que passaram a controlar o acesso à maior parte das reservas mundiais de hidrocarboneto.
Cada vez mais, os valores do petróleo e dos derivados dependem de variáveis financeiras, mais do que a própria escassez relativa dos produtos e sendo assim, uma ciranda financeira se estabeleceu.
Assim, cada país começou a adotar mecanismos que fixam preços para o mercado interno de derivados de petróleo e que refletiam seu acesso ao óleo cru, sua capacidade de refino, mais a logística de sua distribuição e políticas tributárias, que diferenciavam os preços.
As diferenças dos impostos geravam trajetórias distintas dos preços do petróleo, onde os preços da Costa Oeste dos EUA – Estados Unidos da América, não tinham o mesmo valor dos preços da Costa Leste ou do Golfo do México.
Comparações entre os países produtores
Existem diferenças entre os níveis absolutos dos preços praticados pelos países produtores de petróleo que exportam muito e atendem menos o mercado interno e conseguem manter os preços dos derivados mais baixos e com flutuações menores. Por outro lado, grandes importadores de derivados e de petróleo acompanham as movimentações de referência internacional de preço.
Todos os 15 grandes exportadores de petróleo e de gás natural, com a gasolina mais barata do mundo, têm seus mercados internos pequenos em relação aos volumes que exportam.
Aqueles que consomem internacionalmente petróleo cru e gás natural, fazem subsídios para manter o consumo doméstico com preços relativamente mais baixos dos combustíveis.
Curiosidades e tendências
As capacidades de refino mais modernas estão situadas predominantemente nos países produtores do Oriente Médio e na Ásia (China e Índia).
Os novos parques de refino são bem mais integrados com a petroquímica, constituindo-se complexos petroquímicos para a produção de produtos transformados, reduzindo-se proporcionalmente a produção de combustíveis para veículos de transporte.
Essas tendências agravam os problemas de precificação dos derivados de petróleo que ainda estão passando por fases de expansão dos modais de transportes e que devem aumentar cada vez mais.
Preços altos, refinarias localizadas nos países produtores, maior dependência das importações de longa distância e custos mais elevados exigem mais ação do governo e políticas próprias para enfrentar o problema.
Já o Brasil está indo na direção contrária, ou seja, diminuindo o papel da estatal com a venda da distribuição da mesma, abrindo para a concorrência suas unidades de processos logísticos e principalmente a venda de suas refinarias, diminuindo a possibilidade do governo intervir futuramente.
O Brasil poderia continuar tendo uma situação privilegiada com a produção de petróleo e de refino. Gera entre 2,1 e 2,5 milhões de barris por dia de petróleo. A procura por derivados aumentou no mundo, mas o Brasil vê a capacidade de suas refinarias diminuírem, por falta de investimento no setor e desta forma, ficando cada vez mais dependente da importação de derivados, tirando de qualquer plano estratégico a ampliação do parque de refino.
Alerta de apagão de derivados
Se o Brasil voltar a crescer significativamente nos próximos anos, teremos um apagão de derivados. Nesse momento, a política praticada pela Petrobras, não pode ser somente uma disputa entre os acionistas que querem retornos de curto prazo, onde a distribuição da renda petroleira não se resume a esses grupos de interesses. Entre os próprios acionistas, existem aqueles que querem uma valorização de seu capital há longo prazo e com a expansão do Market share dos derivados aqui mesmo, com investimentos em projetos de alta rentabilidade e valorização dos ativos.
Não é correto afirmar que qualquer outra política que não seja o ajuste imediato dos preços domésticos aos preços internacionais, signifique prejuízo para os acionistas. O valor do combustível doméstico se situa entre o referencial do preço internacional e o custo de produção doméstico. A distribuição dessa parcela de renda é uma escolha da estratégia da empresa.
Maximizar o retorno dos acionistas no curto prazo, poderá significar o detrimento do capital investido no longo prazo, simplesmente pela perda da capacidade de crescimento e diminuição do seu papel no mercado, abrindo-se para a concorrência dos importadores e outros produtores.
No caso do Brasil o governo confunde o nível absoluto dos preços com a sua variação e ainda atribui aos estados que recebem impostos indiretos (ICMS) com os vilões dos aumentos. Essa tributação age após a precificação e não antes então não pode ser considerada a causa do problema é sim a consequência.
A política de preços deve ser diferente para cada derivado e não igualada
As variações dos preços são muito mais rápidas e agravadas pela “política de preços” que é praticada, sendo esta a causa dos aumentos dos preços.
Outro caso importante é que não podemos tratar todos os derivados da mesma forma, ou seja, a política de preços da gasolina (que atinge mais os veículos privados) não pode ser a mesma política de preços do diesel (que impacta nos custos de transporte das mercadorias, nos custos de operação de máquinas e equipamentos e nos transportes coletivos de passageiros).
Também deve ter uma política específica para o gás GLP ou comumente chamado de gás de cozinha, face ao seu efeito gigantesco sobre a renda das famílias, especificamente, as famílias mais pobres, elevando a sua substituição por lenha e outros combustíveis perigosos e atrasados.
O aumento da produção das refinarias, criaria um colchão para amortecer as flutuações dos preços internacionais em relação aos preços domésticos, sem chegar a dar prejuízo aos acionistas, pelo contrário, seria bem visto!
Os custos de refino utilizando o pré-sal daqui, cairiam significativamente e seriam bem menores do que os dos preços internacionais de petróleo e ainda ampliaria as margens de refino.
Uma utilização mais intensa das refinarias, processando bem mais petróleo nacional, possibilitaria a suavização das variações de preços domésticos, pois evitaríamos as importações de derivados.
O desmonte da Petrobras, a subordinação aos interesses financeiros de curto prazo de alguns acionistas e a saída da estatal da distribuição e da logística, com ampliação das importações de derivados, são as principais causas das variações dos preços dos combustíveis no Brasil.
Redação – Brasil do Trecho
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