MP apura “Propinas” pagas por concessionárias para sindicatos dos caminhoneiros e transportadoras

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Delator afirma que concessionárias de rodovias de SP pagaram quase R$ 2 milhões de reais para sindicatos da categoria, por apoio e para serem contra as greves.

Agora desconfiamos do que pode ter ocorrido na época 

O MP – Ministério Público Estadual de São Paulo investiga o pagamento de uma espécie de “mensalinho” para entidades sindicais de caminhoneiros e transportadoras, do período de 2004 a 2015, por empresas do setor de rodovias. 

O ex-presidente do Grupo Ecovias Marcelino Rafart de Seras revelou através de um acordo de colaboração, que representantes de cinco entidades sindicais receberam um total aproximado de R$ 1,94 milhão.

Os valores serviram para garantir o apoio da categoria aos interesses das concessionárias de rodovias de SP em negociações com o governo e para evitar greves e paralisações nas rodovias. 

Em 2018, no governo de Michel Temer (MDB), caminhoneiros em acordo com transportadoras pararam o país por dez dias. Eles pediam redução do preço do óleo diesel, tabela mínima para o frete e isenção de pedágio para eixo suspenso. Temer foi obrigado a ceder.

Mas agora a história contada é outra…

“Entre 2004 e 2015, foram realizados vários pagamentos aos sindicalistas líderes dos caminhoneiros autônomos e frotistas, por todas as concessionárias”, registra o anexo 9, do acordo de Marcelino Seras e que um jornal de grande repercussão no país teve acesso. 

Os pagamentos variaram entre R$ 111 mil a R$ 350 mil e todo o custo teria sido rateado entre as 12 primeiras concessionárias, administradoras de rodovias estaduais paulistas e a maior parte delas, ainda participa nos negócios.

Será possível que isso tenha ocorrido?

Provavelmente sim. Um anexo (carta) que trata dos “fatos relacionados ao pagamento de valores aos Sindicatos de Caminhoneiros entre 2004 e 2015”, o delator afirma que, além dos valores pagos bimestralmente ou trimestralmente, foram repassadas quantias em outras ocasiões específicas também.

Ele citou as negociações das concessionárias para cobrança de pedágio sobre os eixos suspensos dos caminhões.

Os sindicatos se comportaram sempre alinhados com os interesses das concessionárias de rodovias”, afirmou Marcelino Seras, no depoimento ao MP.

“Em São Paulo, a cobrança por eixo suspenso normalmente sempre foi feita e só parou depois de 2018, com a greve nacional.

O delator disse que o dinheiro para contribuir com as entidades vinha através de caixa 2 e citou os 12 grupos originais das concessões de rodovias em SP. 

Marcelino afirmou que “Pagaram valores proporcionais às suas respectivas participações nas receitas totais das concessões de rodovias paulistas”.

Os pagamentos foram realizados em espécie, segundo Marcelino Seras, “de forma bimestral ou trimestral e realizados diretamente por meio de envelopes, em dinheiro.” 

O delator afirma que os supostos envelopes “eram retirados quase sempre por Herculano (da Silva Filho), na sede da Ecovias ou da EcoRodovias, em SP”. 

Herculano foi diretor do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de São Paulo (Sindicam) que morreu em setembro de 2020.

As entidades sindicais que foram citadas e que estão no radar do MP, representam tanto caminhoneiros (autônomos e assalariados) quanto transportadoras. 

O delator citou vários nomes que são referências no setor de transportes e de cargas, entre eles, José Araújo Silva, o China, da União Nacional dos Caminhoneiros – Unicam, da classe trabalhadora e Geraldo Vianna, que era da Associação Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas e Logística – NTC, ligada à classe patronal. 

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Fonte: SBT NEWS

Foram citados ainda outros nomes, como o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros – Abcam, José da Fonseca Lopes, e Flávio Benatti, da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo – Fetcesp.

China, como é mais conhecido, é figura histórica entre os caminhoneiros e afirmou que nunca recebeu qualquer valor indevido e que desconhece o que foi relatado pelo ex-presidente da Ecovias. 

“Nós nunca defendemos as concessionárias. Sempre fomos contra a cobrança do pedágio por eixo suspenso e ganhamos a luta.” 

Norival de Almeida Silva, presidente do Sindicam-SP, outro citado pelo delator afirmou que “Estou sabendo agora disso. Nunca existiu. Nunca recebi qualquer valor”, afirmou.

Outros que foram citados apesar de procurados, não responderam aos questionamentos.

Atualmente a Abcam, a Unicam e o Sindicam têm um bom relacionamento com o governo federal de Jair Bolsonaro. Todavia, as entidades sindicais foram contra a paralisação de setembro de 2021.

Na época, Bolsonaro fez um apelo para “radicais” liberarem as estradas. 

Seras fez um acordo em que promete devolver R$ 12 milhões e R$ 638 milhões pela companhia, mais a revelação de novos fatos ilícitos e desta forma ficariam livres de responder as ações na Justiça que tratam dos fatos, desde que cumprido os termos. 

Os demais citados estão sob investigação e podem ser alvos de ações “em curso ou que vierem a serem propostas”.

O advogado Roberto Garcia Lopes Pagliuso, que defende o ex-presidente da Ecovias no acordo, afirmou que não pode se manifestar por ser um processo em sigilo.

O advogado Edgard Hermelino Leite Júnior, que representa o Grupo Ecovia, também não comentou o caso e afirmou que a “empresa segue sua posição de colaboração com as autoridades”. 

O presidente da Abcam e os outros dois nomes citados pelo delator, Vianna e Benatti, foram procurados, mas não quiseram se manifestar.

Redação – Brasil do Trecho / Com informações SBT NEWS