Dados são alarmantes e preocupam a existência de várias espécies da fauna brasileira
Os dados são, sem dúvida, estarrecedores. São 475 milhões de animais silvestres mortos por atropelamento nas estradas brasileiras todos os anos. E a vítima mais recente é um gato maracajá, animal em extinção, atropelado no entorno do Parque do Atalaia, na zona rural de Macaé, no norte do Estado do Rio de Janeiro.
Duas semanas antes, a vítima foi outro felino, um gato do mato pequeno, também conhecido como gato maracajá mirim, que foi encontrado morto na RJ-116, em Cachoeiro do Macacu. O corpo foi retirado por membros da ONG SOS Vida Silvestre, que atua realizando ações que ajudam a reduzir esses números.
SOS Vida silvestre
A SOS Vida Silvestre, atuando com a concessionária Rota 116, tem trabalhado diariamente para mudar essa realidade. As ações são diversas: monitoramento para identificar os principais pontos de atropelamentos, atuação no tocante à educação ambiental e verificação de telas e placas para trazer mais segurança tanto para a biodiversidade como, também, para os motoristas, dos quais se exige respeito aos limites de velocidade e às placas de sinalização como um modo de fazer a diferença.
Segundo pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense, para onde muitos corpos de animais silvestres são encaminhados para estudos, há pelo menos dois motivos que levam os animais a se arriscarem na travessia das rodovias. Um deles é o caso dos reflorestamentos que chegaram próximo às rodovias e outro fator, de máxima importância, é a atenção do condutor.
Relatos de atropelamentos
Os relatos de atropelamento são antigos mas, hoje, a situação pode ter se tornado crítica porque os veículos são mais rápidos, alguns mais silenciosos e isso também pode ser um fator de risco. Ainda assim, a atenção do condutor é crucial para evitar o atropelamento de animais nas rodovias. E a conscientização dos condutores que trafegam em áreas onde é intensa a movimentação de animais silvestres pode fazer toda a diferença.
A mídia sempre divulga os casos de atropelamentos de animais de maior porte, como antas e lobos-guarás, mas todos os dias há centenas de atropelamentos de animais pequenos, como serpentes, lagartos e muitos outros dos quais não se toma conhecimento e, por isso, é difícil quantificar esse número.
Esses atropelamentos acontecem porque as rodovias do país passam por área de vegetação muito expressivas, principalmente no Rio de Janeiro. São áreas que abrigam muitos animais silvestres se deslocando seja para mudar de área, seja para procurar parceiro no período de reprodutivo, para procurar alimento ou, após o período reprodutivo, os jovens tentando se dispersar para colonizar novas áreas.
Tudo isso gera essa movimentação de animais e a tentativa de atravessar as vias. Muitas vezes, quando elas são duplicados ou mal sinalizadas ou favorecem o trânsito de veículos em alta velocidade, os animais são muito mais afetados.
Foram quatro atropelamentos de animais silvestres na região do norte fluminense no espaço de 15 dias. Mas as rodovias são perigosas para os animais mesmo quando não há carros. As vias são barreiras que isolam grupos, podendo gerar enfraquecimento genético.
Rodovias como a BR-101 atravessam unidades de conservação bem como isolam outros trechos de florestas habitadas por esses animais. Então, as populações que estão em lados diferentes da rodovia não vão se encontrar e isso diminui o potencial de diversidade genética dessas populações ao gerar o isolamento dos animais.
A falta da sinalização também é causa do alto número de mortes. Alguns trechos da BR-101, principalmente os que atravessam unidades de conservação, são bem sinalizados. Porém, outros são bem menos sinalizadas, algumas rodovias estaduais ou estradas locais são muito menos sinalizadas e, muitas vezes, passam por trechos com onde há população animal, o que acaba por se tornar fator de risco para os animais.
Que as rodovias são necessárias, não há a menor dúvida. Mas isso não impede que se preste atenção à população de animais silvestres que habitam essas regiões. Afinal, os humanos são os intrusos e, como tal, devem estar atento para a preservação da biodiversidade.