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A Lei do Descanso está sendo cumprida? O dilema dos caminhoneiros brasileiros

A Lei do Descanso, criada para assegurar a segurança nas estradas e preservar a saúde dos caminhoneiros, enfrenta uma dura realidade nas rodovias brasileiras. Apesar das regras claras, como o limite de cinco horas e meia de direção sem interrupção e a jornada máxima de 12 horas diárias, muitos motoristas relatam dificuldades para cumprir as exigências legais devido ao cenário econômico e à falta de infraestrutura.

O aumento dos custos e a pressão por produtividade

Com o diesel em alta e os preços de pneus e peças subindo continuamente, os caminhoneiros, especialmente os autônomos, se veem obrigados a aumentar a produtividade para equilibrar as contas. Isso significa mais horas ao volante e menos tempo de descanso, um sacrifício que compromete tanto a saúde quanto a segurança nas estradas.

“Hoje, a gente trabalha muito mais do que antes, sacrificando o sono para cumprir os horários. Se não for assim, não conseguimos cobrir os custos do caminhão”, desabafa um caminhoneiro.

A falta de infraestrutura de apoio

Outro obstáculo para o cumprimento da Lei do Descanso é a carência de pontos de parada adequados. Muitos caminhoneiros relatam dificuldades em encontrar locais seguros e gratuitos para descansar. A alternativa mais comum são postos de combustível, mas o acesso a esses espaços frequentemente está condicionado ao abastecimento, o que pesa no bolso de quem já lida com margens de lucro apertadas.

“Postos exclusivos para caminhoneiros são raros. Na maioria das vezes, é preciso disputar vagas em postos comuns. Se você chega tarde, não encontra lugar para parar”, explica outro motorista.

Aumento de infrações e riscos nas estradas

A Polícia Rodoviária Federal registrou um aumento de 218% nas autuações por descumprimento da Lei do Descanso no primeiro semestre de 2022 em comparação com o ano anterior. No entanto, a fiscalização não tem sido suficiente para conter o problema. Muitos motoristas afirmam que continuam dirigindo exaustos, aumentando o risco de acidentes graves.

“Eu tento ser cuidadoso e entrego na mão de Deus. Não é o ideal, mas é o que dá para fazer no momento”, afirma um caminhoneiro, refletindo o dilema enfrentado por muitos colegas de profissão.

Assista o vídeo:

A responsabilidade é de todos

Embora a fiscalização seja crucial, é evidente que a solução passa também pela ampliação de pontos de apoio e melhorias na infraestrutura rodoviária. Além disso, os caminhoneiros precisam investir em gestão e negociação para buscar melhores condições de trabalho.

A responsabilidade pela segurança no trânsito é compartilhada. Dirigir descansado não é apenas uma questão de cumprir a lei, mas de preservar vidas. É hora de discutir alternativas que equilibrem as necessidades econômicas dos motoristas com a segurança de todos nas estradas.

João Neto

Nascido em Ceilândia e criado no interior de Goiás, sou especialista em transporte terrestre e formado em Logística. Com ampla experiência no setor, dedico-me a aprimorar processos de transporte e logística, buscando soluções eficientes para o setor.

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