Caminhoneiro idoso Foto: brian wilson
Apesar de já terem conquistado o direito à aposentadoria, milhares de caminhoneiros em todo o Brasil continuam na ativa, enfrentando longas jornadas e estradas desafiadoras. O fenômeno, cada vez mais comum, chama atenção de especialistas e levanta uma pergunta importante: por que tantos motoristas aposentados seguem trabalhando?
A resposta envolve uma combinação de fatores econômicos, emocionais e culturais que mantém esses profissionais no volante, mesmo após alcançarem os requisitos para deixar o mercado formal.
Um dos principais motivos está na necessidade de complementar a renda. Com o custo de vida elevado e aposentadorias muitas vezes abaixo de R$ 2 mil, muitos motoristas afirmam que não conseguem se sustentar apenas com o benefício do INSS. Combustível, aluguel, medicamentos e alimentação são gastos que continuam — e, em alguns casos, aumentam com a idade.
“Recebo pouco mais de um salário mínimo e tenho três netos que dependem de mim. Se eu parar de trabalhar, a conta não fecha”, conta João Fernandes, de 66 anos, caminhoneiro há mais de quatro décadas.
Além disso, há motoristas que continuam como autônomos ou agregados, prestando serviço com caminhão próprio, o que permite maior flexibilidade e algum controle sobre a carga horária e os ganhos.
Outro ponto importante é o aspecto emocional. Para muitos, o caminhão representa mais do que trabalho: é parte da identidade, da rotina e até da autoestima. O distanciamento das estradas pode gerar sensação de inutilidade, solidão ou perda de propósito.
“Eu não consigo ficar parado. A estrada é minha casa. É onde me sinto vivo”, diz Antônio Lopes, de 70 anos, que optou por continuar dirigindo mesmo após se aposentar formalmente há cinco anos.
O sentimento é compartilhado por outros motoristas que veem no trabalho uma forma de manter-se ativo, útil e em contato com o mundo.
Especialistas em trabalho e previdência alertam que a permanência desses profissionais no mercado muitas vezes não é uma escolha, mas consequência de uma aposentadoria insuficiente e da falta de políticas públicas específicas para caminhoneiros idosos.
“Há um vácuo de proteção social. Poucos conseguem poupar ao longo da vida e muitos não têm acesso a planos de saúde, atividades alternativas ou suporte psicológico”, explica a economista Regina Mota, que pesquisa o envelhecimento da força de trabalho.
Mesmo com toda experiência, motoristas acima dos 60 anos estão mais suscetíveis a problemas de saúde, como cansaço extremo, hipertensão, diabetes e distúrbios do sono. Tudo isso pode impactar diretamente a segurança viária, principalmente em viagens de longa duração.
Por isso, há um debate crescente sobre a necessidade de monitoramento médico periódico, treinamento contínuo e acompanhamento da jornada de trabalho para caminhoneiros aposentados que permanecem ativos.
A presença de caminhoneiros aposentados nas estradas do Brasil é reflexo de um cenário mais amplo que envolve renda baixa, vínculo emocional com a profissão e ausência de alternativas sustentáveis no período pós-aposentadoria.
Enquanto isso, muitos seguem firmes no volante, movidos por necessidade, amor ao ofício e pela vontade de continuar rodando — mesmo quando já poderiam ter estacionado.
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