
Foto: Correios/ Kárita Sena
A crise financeira dos Correios alcançou um novo patamar alarmante. Além do prejuízo bilionário registrado no primeiro trimestre deste ano — o pior resultado desde 2017 — funcionários da estatal agora denunciam a escassez de insumos básicos em diversas agências do país, como papelão, fitas adesivas, envelopes e até empilhadeiras. A situação começa a afetar diretamente a cadeia de logística nacional, impactando transportadoras e caminhoneiros que dependem da estrutura dos Correios para concluir entregas em regiões mais remotas.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo (Sintect-SP), os relatos de falta de materiais são recorrentes e generalizados. “Faltam itens básicos para empacotamento, o que paralisa o fluxo normal de distribuição. Não é um caso isolado. Isso está afetando a operação como um todo”, afirmou o presidente do sindicato, Elias Divisa.
Nas centrais de distribuição, a escassez de empilhadeiras e outros equipamentos logísticos tem levado a atrasos e sobrecarga de trabalho. Parte dos caminhoneiros que prestam serviço terceirizado para os Correios relatam dificuldade para descarregar ou carregar mercadorias nos prazos previstos. Alguns já enfrentam filas e longas esperas nos depósitos, o que compromete seus cronogramas e compromissos com outras entregas.
“Está tudo travado. A gente chega e precisa esperar horas porque não tem equipamento nem pessoal para descarregar. Isso não existia há alguns anos”, relata Júlio César, caminhoneiro autônomo que opera rotas no interior de Minas Gerais.
A situação já gera um efeito cascata na logística nacional. Transportadoras menores, que utilizam os Correios para complementar trechos de entrega ou fazer capilaridade em regiões de difícil acesso, estão sendo obrigadas a buscar alternativas mais caras ou menos eficientes.
A estatal, por sua vez, afirma estar adotando medidas emergenciais de contenção de custos e revisão de contratos para enfrentar o momento delicado. Em nota oficial, os Correios garantem que “a continuidade operacional está assegurada em 2025” e que “ações corretivas e contingenciais estão sendo implementadas para garantir a regularização dos prazos”.
Entretanto, nos bastidores, a tensão cresce. O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou irregularidades na contabilidade da empresa, o que pode agravar ainda mais o cenário fiscal da estatal. Ao mesmo tempo, atrasos em pagamentos a fornecedores e ao fundo de previdência complementar dos funcionários (Postalis) reforçam o quadro de desorganização financeira.
Enquanto isso, caminhoneiros e pequenos empresários do setor de transporte seguem acumulando prejuízos silenciosos, num sistema que depende, cada vez mais, da eficiência de todos os elos da cadeia — inclusive das instituições públicas. A falta de insumos nos Correios, que à primeira vista poderia parecer um problema interno, já se mostra como um desafio de escala nacional.
Esta postagem foi publicada em 7 de junho de 2025 09:18
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