Dean Arney um caminhoneiro a quase 40 anos no Reino Unido comenta as duras condições de trabalho e como isso refletiu em sua vida pessoal.
Reino Unido necessita desesperadamente de motoristas de caminhão
O caminhoneiro Dean Arney comenta a dura profissão que o acompanha há quase 40 anos. Explica Arney que é divorciado, uma situação bastante comum com os companheiros de profissão. Disse que seu filho pensou em pegar a estrada, seguindo a profissão do pai, porém o aconselhou a não fazer isso, comenta o britânico em Ashford, um ponto entre Londres e o túnel sob o Canal da Mancha que conecta o Reino Unido ao continente europeu.
Informa que são difíceis as condições de trabalho que acabam refletindo na vida familiar e os salários não são suficientes para se viver. Acostumado a viajar pela Europa, como a maioria de seus companheiros de profissão, ele é muito crítico em relação à infraestrutura britânica (por incrível que isso pareça para nós brasileiros).
Os estacionamentos britânicos nos cobram pela noite e pela manhã também e você ainda corre o risco de acordar com a porta de seu caminhão arrancada e a sua carga e combustível roubados. Relata que isso também pode acontecer na Europa, mas aqui já é um problema real.
A falta de caminhoneiros só se agrava cada vez mais
Em uma medida emergencial para suprir a falta de caminhoneiros no Reino Unido, o governo britânico prometeu até 5.000 vistos de trabalho, porém, para um período determinado entre 3 a 6 meses somente. Até o momento apenas 27 inscritos se interessaram para cerca de 300 vagas abertas.
De acordo com Luis Gómez presidente do Grupo de Transporte XPO Logistics que embora considerada uma medida positiva ela é tardia, pois não possui um apelo forte e claro para os motoristas estrangeiros, porque parece muito temporária e os motoristas do país tem oportunidades melhores fora do Reino Unido.
Cerca de 400 mil motoristas desapareceram em toda a Europa e 100 mil eram do Reino Unido, o que reflete a crise da falta de profissionais no país.
Outro depoimento é o de Steven Evans, um ex-motorista, mas agora proprietário de uma empresa de transporte em Liverpool. Informa que os motoristas suportam baixos salários, péssimas instalações em todo o país e roubos frequentes de cargas. Evans comenta que teve que voltar a trabalhar na estrada devido à escassez de mão de obra. A idade média de motoristas no Reino Unido, gira em torno de 58 anos.
Atualmente as transportadoras tentam seduzir novos motoristas para convencê-los a trabalhar seis dias por semana e em jornadas de até 15 horas. Relata que pagava anteriormente aos seus motoristas 1.000 libras (1.400 dólares ou 1.200 euros) por semana e que agora teve que subir para 1.400 libras (1.900 dólares ou 1.600 euros).
Ainda existe uma certa discriminação, pois os britânicos nos dizem que os motoristas estrangeiros estão aqui para pegar seus empregos, mas não vejo nenhum britânico querendo manter o seu aqui, resume Evans.
Outro caminhoneiro de nome Steven Abbott, relata que existem motivos para preferir o continente ao invés do Reino Unido. Na França por exemplo, você pode pagar uma refeição completa, entrada, prato principal e sobremesa, por 10 ou 11 euros. No Reino Unido a vida é mais cara. Paga-se entre 7 e 10 libras (8 a 12 euros) por uma lasanha e batatas fritas ou um bolo de carne.
Aos seus 35 anos, Abbott prefere fazer apenas viagens curtas, o que lhe permite voltar para casa todas as noites. Já vi chuveiros nas paradas onde a água pinga devagar e é preciso segurar com as duas mãos para conseguir se molhar e fica insuportável fazer isso cinco noites por semana, diz.
Várias empresas lhe ofereceram contratos com melhores salários para viagens longas, que o faria passar a maior parte das noites na estrada e que subiria seus ganhos para 10.000 libras a mais por ano, mas que o impediria de ver seus filhos crescerem e isso não compensa.
Redação – Brasil do Trecho
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