Caminhoneiro Gabriely, filha da caminhoneira Sheila Bellaver. Foto: reprodução
Gabriely Franciscon cresceu ouvindo o barulho dos motores e vendo de perto a rotina puxada das estradas, acompanhando de perto a trajetória da mãe, Sheilla Bellaver — uma das caminhoneiras mais conhecidas do país. Com o tempo, aquilo que era admiração virou escolha de vida, e Gabriely decidiu seguir os mesmos passos, assumindo com orgulho a profissão que carrega tanta história na família. Hoje, ela comanda seu caminhão com firmeza e carinho, mostrando que o amor pela boleia corre no sangue e que lugar de mulher também é na estrada, fazendo história por conta própria.
“Já era quase meia-noite quando eu comecei a me ajeitar no caminhão. Muita gente acha que a gente só entra, gira a chave e vai… mas antes de sair, tem toda uma preparação. Como eu saio de casa sem saber quando volto, preciso pensar em tudo.
Organizo a cabine direitinho: roupas limpas, toalhas, cobertinha, remédios, uma muda extra de roupa… tudo tem que estar no lugar certo. Até tapetinho de banheiro eu levo, acredita? E antes de sair, já deixo uma roupa pronta e separada pro banho do dia seguinte, porque nem sempre dá tempo de ficar organizando isso na correria da estrada.
Na térmica, coloco água quente. Levo meu café solúvel e uma chaleirinha elétrica que quebra o maior galho. Tenho também um inversor de energia, mas ele já deu pau… não aguentou nem o secador de cabelo. Ainda assim, improviso como posso. A gente aprende a se virar.
Gosto de manter o caminhão limpinho. Quando tenho tempo, subo até no teto pra lavar tudo com carinho. Sim, eu mesma. É cansativo, mas quando eu vejo ele brilhando, dá um orgulho danado.
Meu dia começa assim. Antes de pegar estrada, ainda passo no posto pra calibrar, conferir o óleo, encher o tanque. Vejo o hodômetro, preencho o disco do tacógrafo… pra quem não sabe, aquilo registra tudo: velocidade, horas dirigidas, pausas. Não é só dirigir, tem uma papelada também.
Dessa vez, tô indo pra Fraiburgo, em Santa Catarina. Vou carregar maçãs. Carga pesada, tem que tomar cuidado. De lá, sigo pra São Paulo. O bom é que no caminho, às vezes, consigo cruzar com a mãe e meu irmão — eles também são caminhoneiros. Isso me conforta. Caminhão é coisa de família por aqui.
Ah, e hoje ainda foi o dia que tiramos o eixo de ônibus do caminhão. Ele nunca funcionou direito, então resolvi tirar de vez. Parece bobagem, mas cada coisinha dessas faz diferença no dia a dia.
Agora tô aqui, garganta meio ruim, calor de 30 graus e o caminhão ainda carregado. Mas é isso. Todo dia é uma história nova. E mesmo com os perrengues, não trocaria essa vida por nada.
Tem gente que olha torto, acha estranho. Mas eu olho pro meu caminhão e penso: ele é lindo do meu jeito. E eu? Eu tô vivendo o que eu sempre sonhei.”
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